29/02/2012
Da série: Vômitos textuais súbitos
A primeira vez que fiz aniversário eu estava com a perna quebrada. A primeira vez que fui à escola não chorei. O meu primeiro amor e beijo foi por puro escapismo. A minha primeira escolha profissional foi focada na minha independência; o primeiro namoro e transa foi ato de curiosidade, quase acidental, mas eu queria experimentar. A primeira vez que terminei um relacionamento, me senti livre. Quando bebi o primeiro porre foi por aventura,e fulga da redoma criada até então: eu, tão meiga e pateticamente perfeita. A primeira vez que transei sem amor, foi para provar cabalmente que eu poderia muito bem ser diferente do que eu era.Queria degustar o sabor de ser livre e poder me dar ao luxo de fornecer o meu corpo de bandeja sem meu próprio julgamento. A primeira vez pisei na universidade vi quantas opções ela me daria, me senti perdida, mas fiquei em êxtase. A primeira vez que tirei uma nota vermelha, vi que eu era humana. A primeira vez que chorei por amor foi a primeira vez que vi o quanto era triste deixar alguém que se amava, e ser deixada também, no entanto eu aprendi.Os episódios inéditos em minha vida tem algo em comum: emoção, ruptura,aventura, liberdade e descobrimento.
Hoje, pela primeira vez tenho pensado em mim como alguém que precisa de amor ( não necessariamente de um homem), como alguém que gosta de aventura, paixão, e alguém que tem o desejo desenfreado de se encontrar, descobrir seus desejos . As escolhas, e o fato de achar que posso tudo, e ser suficientemente boa em algumas coisas me trouxeram um pessimismo imenso e uma indecisão cortante que muita vez me faz achar que não terei mais uma segunda vez. O fato é que agora gosto de ser quem eu sou, ou no mínimo aceito quem eu sou. A primeira vez que clamei a atenção de um homem eu vomitei em um balde todas as minhas angústias e o medo de nunca mais achar alguém para implorar que não me deixasse depois do natal. A primeira vez que chorei por dois dias, e reclamei um testemunhal foi quando uma amiga me disse que eu era conhecida como a garota "chuchu", por coincidência foi no mesmo dia que levei o primeiro bolo épico, digno de se tomar com chá. Tal revelação foi uma furadeira em ação dentro da minha cabeça e coração.Segundo ela, essa definição se daria porque um grupo de amigos disseram que eu era verde por fora, aguada e sem gosto por dentro. Tal revelação me encaixotou em uma tremenda crise. Procurei um psicólogo. "A garota chuchu". Não. Eu queria ser a garota mais inteligente, linda e interessante que podia existir, pois eu tinha muita vergonha de falhar, não saber absolutamente nada, e ser rejeitada. Nada que dois anos de terapia e namoro – e o término deste- mais uma faculdade desapropriada para o meu perfil, não resolvesse. Travei uma guerra incessante contra todos os meus medos e esteriótipos, adicionados por mim até então. Rejeitei muito - tudo e todos.
Assim eu descobri: A menina que não gostava de ler tanto que achou que gostava, que achava lindo saber latim, que seria uma renomada professora de universidade, entenderia de cinema, música e beberia no fim de semana. Em meio a essa guerra me reprimi e deprimi achando que jamais seria digna de existir, afinal minha existência era um acidente de mal gosto. Fiz testes vocacionais on-line, pensei em me mudar pra Itália e trabalhar como garçonete de um restaurante e nunca mais amar ninguém. Pensei em me matar, em me contentar com pouco.Até já pensei em ser aeromoça, viajante, fotógrafa, jornalista, públicitária, administradora, atriz, vendedora da Natura, prostituta, vidente, drogada, e atendente de telemarketing. Não sei exatamente o que quero ser, mas por hora gosto muito de ser que eu sou, e saber o pouco que eu sei. Talvez eu esteja mais saborosa do que antes. Tenho meus amigos, aprendi a rejeitar convites, transar por vontade e/ou amor. Não entendo de culinária, tampouco cinema. Não finjo gostar do mundo inteiro e não faço questão de que o mundo inteiro goste de mim. Não sou romântica, apesar de achar que no fundo toda pessoa que rejeita o romantismo é totalmente romântica (e pessimista) por achar o amor cafona e altamente sofredor, principalmente sofredor. Obviamente que de bônus, tenho um pouco de medo da solidão. Só não tenho vergonha do que eu sou. Não falo mal dos homens, nem tampouco tempo afasta-los de mim como fiz várias vezes (in)conscientemente. Pela primeira vez sou um pouco mais corajosa e sincera comigo.
Quero muito descobrir o que me faz feliz profissionalmente, mas fico muito feliz em saber que reconheço quem me faz feliz e as miudezas que me fazem feliz.Não sei como será as minhas primeiras vezes daqui em diante, mas agora sei que gosto mais da aventura e do novo, e menos, do que todos pensam e do que eu achei que gostaria um dia. Acho que agora as coisas estão onde elas deveriam estar. Álias, "tudo está onde deveria estar".
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